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A floresta que levamos para a COP26 em Glasgow é um ato de esperança e otimismo tenaz. Ser otimista não significa ignorar os fatos duros e difíceis, mas enfrentá-los com a determinação de transformar as possibilidades que temos pela frente e com nossa determinação transformá-los em realidade.
Nosso objetivo é levar nossas sociedades a um ponto onde as ações necessárias para criar um mundo regenerativo sejam percebidas como inevitáveis e não como algo marginal ou atribuído a «ambientalistas radicais». Todos nós precisamos ser ambientalistas! Sem isso, nem nós, nem as gerações futuras, teremos um bom futuro.
Otimismo tenaz significa procurar maneiras de agir, mesmo quando tudo parece sombrio. A mudança climática já está entre nós. O grau dessa mudança dependerá do que fizermos ou deixarmos de fazer daqui em diante. Não agir é uma garantia de catástrofe futura. Se cada um de nós tomar ações em casa, pequenas melhorias na resiliência familiar serão alcançadas. E, se essas ações diárias se somarem às coletivas, poderemos transformar o mundo.
Fato psicológico
Os psicólogos identificaram que os seres humanos tendem a se acostumar a pensar e reagir de determinadas maneiras a certos estímulos. Diante da mudança climática, a reação mais comum é pensar que trata-se de algo grande demais, muito complexo e além de nossa capacidade, fazendo com que desviemos o olhar das más notícias e continuemos a fazer as coisas da mesma forma.
Em outras palavras: aprendemos a nos sentir impotentes.
Mas essa reação está errada. E, neste ponto, é irresponsável.
Embora alguns indivíduos e organizações tenham se manifestado, como sociedade global, deixamos os anos passarem sem buscar líderes diferentes, sem procurar novas formas de governança que permitiriam uma melhor escolha de prioridades em nossas sociedades, e sem dar à população mais força para mudar os governantes que não decidem pelo bem comum.
Não é que você, sozinho, possa mudar isso, MAS VOCÊ PODE FAZER PARTE DE UM MOVIMENTO DE MUDANÇA.
A sensação de que o problema das mudanças climáticas deve ser resolvido por outra pessoa é ilusória. Acreditar na sua própria impotência e se deixar levar se tornou irresponsável.
Podemos aprender a responder de outra forma às más notícias ambientais. Isso é o que chamamos de otimismo tenaz! Aqui estão alguns exemplos para combater os momentos de desânimo que as notícias ruins frequentemente nos causam.
A criação da «floresta da esperança» é nossa ação ativista coletiva para mudar a maneira como encaramos esses problemas. Esperamos que a floresta transforme a visão daqueles que a conhecem.
Em vez de pensar:
Por que nasci em um momento tão horrível da história?
Pense:
Que sorte eu tenho de ter nascido em um momento em que cada ação que tomo tem um significado maior! Tenho a oportunidade de fazer parte do movimento mais unificador da história da nossa espécie.
Empoderamento
Quando alguém lhe diz: «carregar sua garrafinha de água não muda nada» e você sentir a sensação de impotência novamente, tome consciência do que está acontecendo e não se deixe abater. A pessoa com quem você está falando ainda não decidiu adotar uma atitude de otimismo tenaz, mas você está dando o exemplo para que ela chegue até lá, mais cedo ou mais tarde.
Empodere-se com a ideia de que tudo o que você faz, por menor que seja (sua garrafa de água, sua composteira, sua conversa na escola, no trabalho ou na família) CONTRIBUI SIM.
As técnicas caseiras para mitigar a mudança climática podem parecer pequenas no panorama geral, mas elas tornam você, sua família e as pessoas próximas a você mais resilientes. É essencial que todas as crianças aprendam a fazer compostagem e plantar, além de reduzir o consumo de coisas desnecessárias e descartáveis. Tornar normal carregar uma garrafa de água e evitar produtos descartáveis deve ser um objetivo comum.
Já perdi a conta do número de pessoas que me disseram que um amigo sempre lhes dizia: «isso que você faz é inútil…» e agora é esse amigo quem mais se orgulha de ter adotado essas e muitas outras ações em sua vida diária.
Sinta-se firme e forte, convencido de que está fazendo o bem, para deixar uma marca exemplar que inspirará amigos e familiares. Tudo soma. Por exemplo: evitar um descartável por dia pode parecer pouco, mas evitá-lo 365 vezes por ano já é um acúmulo visível. Contagiar alguns membros da família a fazerem o mesmo faz com que esse impacto positivo cresça ainda mais.
Cada milésimo de grau que NÃO AUMENTA a temperatura é uma conquista: esses milésimos estão em nossas mãos.
Empolgante
Quando receber mais uma notícia deprimente, algo que ocorre com muita frequência, lembre-se de que unir-se a outras pessoas para promover uma mudança geracional é empolgante e dá sentido à vida.
Nem sempre é fácil encontrar seu grupo de apoio, seja na família, vizinhança, escola, trabalho ou outros. Talvez você esteja em uma cidade ou bairro onde pensa ser o primeiro a se conscientizar. Mas com certeza isso não é verdade. Já somos muitos, e é apenas uma questão de nos encontrarmos; precisamos sair e nos procurar.
Uma companheira da coletiva pendurou um bordado no seu bairro para pedir às pessoas que não deixassem bitucas de cigarro espalhadas. Ela achava que era a única pessoa em vários quarteirões que se importava com isso.
Alguns meses atrás, conheci um garoto que fazia vermicomposto em casa e achava que era o único em muitos quarteirões que se preocupava com o meio ambiente. Ele ficou encantado quando, passeando pelo bairro, encontrou um bordado com a placa «Zurciendo el Planeta». Ele me escreveu, e eu os coloquei em contato!
A verdade é que, em todos os lugares, existem pessoas querendo se unir e iniciativas que precisam de apoio. Podemos nos juntar a esses esforços para saber que não estamos sozinhos e, assim, aumentar nosso impacto. Estamos tentando reunir listas de iniciativas coletivas em diferentes cidades, mas há muitas outras que ainda desconhecemos – procure na sua localidade!
Nada é impossível
Parece impossível livrar nossas sociedades da dependência dos combustíveis fósseis? Com o aumento dos preços globais de combustíveis devido à guerra na Ucrânia e muitos governos buscando explorar novas fontes de energia que não sejam russas, a tarefa parece realmente desafiadora.
No entanto, vários países já estão no caminho certo:
- Costa Rica: 98% da eletricidade já é proveniente de fontes renováveis, embora o transporte rodoviário e o setor industrial ainda dependam de combustíveis fósseis.
- Reino Unido: Em 2020, 43% da eletricidade vinha de fontes renováveis. Porém, alguns itens incluídos na categoria «renováveis» são questionáveis, e a energia não elétrica (como a usada em transporte, fogões e aquecedores) ainda é predominantemente fóssil .
- Califórnia: Em maio de 2022, pela primeira vez na história, o estado produziu energia renovável suficiente para atender às suas demandas, embora isso tenha ocorrido devido a condições climáticas ideais e ainda não seja a norma. A Califórnia busca ser 100% livre de carvão até 2045.
Muitas coisas foram consideradas impossíveis até serem alcançadas: o fim da escravidão, a emancipação das mulheres, o reconhecimento das uniões homossexuais como sendo tão normais quanto as uniões heterossexuais. Todas essas lutas continuam para acabar com a discriminação de uma vez por todas, mas agora são amplamente aceitas pela sociedade. O mesmo acontecerá com a discussão sobre a relação entre a humanidade e a natureza.
Agora eles dizem: não podemos cortar o fornecimento de petróleo porque precisamos proteger a economia.
Mais cedo ou mais tarde eles dirão: Temos que parar a economia e não queimar combustíveis fósseis porque precisamos proteger a natureza.
É um problema político
Muitas vezes, parece um problema político. Em alguns países, há apenas um partido que defende as questões ambientais (como nos EUA); em outros, parece que ninguém realmente as defende, apenas falam bem e fazem pouco. Deprimente, com certeza.
MAS VAMOS LEMBRAR que mesmo esses governos que, às vezes, nos desesperam (sabe-se lá de que país você está nos lendo…) são sensíveis ao povo e, historicamente, muitas mudanças foram alcançadas por movimentos de base.
A pesquisadora Erika Chenoweth nos mostra que, no século XX, TODOS os movimentos sociais do mundo em que 3,5% da população estava ativamente envolvida foram bem-sucedidos em suas reivindicações, mesmo sob governos brutais e autoritários.
Não nos digam que o cenário político em nossos países é muito difícil. Precisamos que mais pessoas se envolvam ativamente na mudança de atitudes em relação ao meio ambiente.
O que uma pessoa pode fazer?
Uma pessoa pode reduzir sua pegada pessoal e familiar e inspirar muitas outras.
Acima de tudo, não sabemos nem quando, nem como, ocorrem as mudanças internas que levam alguém a assumir um papel de liderança que será particularmente importante no futuro. Não podemos prever qual será o ponto crítico para que alguém tome a decisão de defender a natureza (que inclui todos nós) ou a combinação de fatores que fará a diferença para uma pessoa, um país, um movimento.
Toda contribuição para conscientizar outra pessoa ou para que alguém se junte ao movimento de cuidado com o planeta é parte da grande transformação que buscamos. Imagine se você colocasse uma composteira em sua casa e mostrasse para um amigo, que se empolga e coloca uma na varanda dele também. Um ano depois, ele começa a dar oficinas de compostagem no trabalho, que são frequentadas por uma senhora e sua filha. A menina cresce cuidando da composteira da mãe e vendo as minhocas como uma parte normal, maravilhosa e elegante da sua vida. Um dia, essa menina se tornará governadora do estado e, depois, presidente do país, com uma visão diferente dos líderes que conhecemos até agora. E tudo porque você inspirou seu amigo a colocar uma composteira na varanda!
Um exemplo bem conhecido é Greta Thunberg, que em agosto de 2018 iniciou uma greve solitária em frente ao parlamento sueco. Um país pequeno, sem muito destaque no noticiário internacional, uma garota solitária, com síndrome de Asperger, que ninguém conhecia. No entanto, em poucos anos, seu ato pessoal se tornou um movimento juvenil imparável, sem paralelo na história da humanidade.
Não devemos subestimar o que uma pessoa pode fazer de muitas maneiras diferentes. Nunca desista do seu otimismo tenaz. Você não sabe quem irá inspirar, e essa pessoa pode fazer a diferença no seu bairro, na seu município, no seu país, no seu continente. Ou talvez seja você quem se tornará presidente.
Coletividade
A verdade é que o ser humano, seja bebê ou adulto, é frágil. Não temos uma carapaça como a de uma tartaruga para nos proteger, nem somos grandes como uma baleia ou um elefante para intimidar nossos inimigos. Nossa força sempre veio de agirmos em comunidade e usarmos nossa engenhosidade.
A engenhosidade coletiva é algo maravilhoso, que passei a valorizar muito no coletivo Zurciendo el Planeta. O que alguém vê como um problema desaparece diante das ideias que fluem de pessoa para pessoa em uma reunião.
Atuar com um grupo — seja na escola, no coletivo, no bairro, ou onde for — é fundamental, pois nos ajuda a lembrar de todos os motivos para não desanimar. As ações individuais são preciosas, mas são maximizadas quando realizadas coletivamente.
As boas notícias
Há muitas notícias ruins, mas também há boas notícias, e precisamos focar nelas e gerar ainda mais boas notícias:
- Mais pessoas andando de bicicleta e mais ciclovias.
- Mais pessoas armazenando a água da chuva.
- Mais pessoas usando e conhecendo banheiros secos.
- Mais pessoas separando seu lixo.
- Mais pessoas fazendo compostagem.
- Mais pessoas trabalhando para proteger a biodiversidade.
O que você acrescentaria a essa lista?
Estamos no caminho certo; só precisamos urgentemente ser MUITO MAIS.
Precisamos ser otimistas, não porque o sucesso é garantido, mas porque o fracasso é impensável.
Christiana Figueres (articuladora do Acordo de Paris, 2015)
O otimismo tenaz lhe dá poder. É algo que podemos trazer para dentro de nós para sermos mais confiantes ao falar, mais capazes ao ensinar e mais corajosos para continuar buscando pequenas evidências locais e globais de que esse desafio PODE ser enfrentado.
Mesmo que você seja rotulado de «louco» em sua casa, cada menção à mudança climática em seus círculos pessoais está, aos poucos, começando a causar um impacto na sua família e amigos. Você está criando um terreno fértil para o dia em que eles encontrarem outra pessoa que admiram e que lhes diga a mesma coisa. Eles poderão dizer: «Ah, sim, na minha casa minha irmã/mãe/filha já está fazendo compostagem/separando o lixo/ativando.» Pode levar tempo, mas você verá como isso acontecerá. Precisamos incentivar todos que já acreditam nisso a falar cada vez mais alto (mas sem gritar).
Uma aplicação do otimismo tenaz
Com nosso otimismo tenaz, vamos falar sobre as mudanças climáticas. Em 9 de agosto de 2021, foi publicado o relatório do IPCC, que compila tudo o que se sabe sobre ciência climática até o momento. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas confirma:
- Apesar das incertezas inerentes a qualquer conclusão científica, o aumento de temperatura registrado se deve à atividade humana, ou seja, à maneira como extraímos e consumimos recursos naturais e como descartamos resíduos. As evidências científicas que ligam esses aumentos de temperatura às perturbações climáticas (como enchentes, secas, calor extremo, incêndios e furacões) se fortaleceram desde o último relatório.
- As mudanças que estamos observando, tanto em magnitude quanto em curto espaço de tempo, não têm precedentes em milhares de anos.
- Atingiremos 1,5 graus Celsius de aquecimento até 2034 (estimativa).
Nas condições atuais e projetadas, os cenários extremos continuarão a ocorrer e se tornarão piores a cada décimo de grau de aumento na temperatura.
ONDE ESTÁ O OTIMISMO?
O relatório inclui modelos do impacto regional da mudança climática. Com um alto grau de confiança em seus modelos, ele nos mostra que, se reduzirmos as emissões de gases de efeito estufa AGORA (e implementarmos medidas de mitigação como reflorestamento e outras), dentro de alguns anos teremos uma chance MUITO BOA de melhorias substanciais nas concentrações de GEE, na redução da temperatura da superfície e na qualidade do ar.
Você mesmo pode ler o resumo aqui (em espanhol) ou todos os materiais publicados aqui (em inglês).
A situação do planeta é crítica. Mas isso não significa que não vale a pena agir. Pelo contrário: significa que é URGENTE que todos nós precisamos agir. Não fique parado porque as perspectivas parecem ruins.
Vamos agir!
A coletiva Zurciendo el planeta
Compartilhamos princípios e desejos. Incentivamo-nos mutuamente e, dessa forma, podemos ser mais fortes em nossas comunidades, deixando uma marca regenerativa em cada cidade onde vivemos.
O ser humano aprende com o coletivo, mas nas grandes cidades isso é frequentemente esquecido. Vivemos amontoados sem nos conhecermos. Precisamos fazer o coletivo crescer.
Você pode ler mais sobre a ideia de otimismo tenaz em «The Future We Choose,» (Inglês) o «El futuro por decidir» (Espanhol) de Christiana Figueres e Tom Rivett-Carnac. Solicite-o na sua biblioteca local ou adquira-o em uma livraria independente. Evite comprar na Amazon, pois essa empresa não promove o bem-estar ambiental e social.